Durante a edição 215 do programa "De Primeira Categoria", apresentado por Zalxijoane Ferreira na Rádio Itapuama FM, recebemos a psicóloga Júlia Araújo, que compartilhou alguns insights sobre saúde mental, educação e os desafios enfrentados por profissionais da saúde. Com uma vasta experiência na área, Júlia atua como psicóloga clínica, escolar e professora universitária, além de colaborar com a Secretaria Municipal de Educação de Buíque. A conversa abordou temas importantes, como o impacto da pandemia na saúde mental, a promoção de autocuidado e o papel da educação no desenvolvimento emocional.
O Papel do Psicólogo e os Desafios da Profissão
A entrevista começou com uma visão geral da rotina multifacetada de Júlia, que atua em diferentes frentes da psicologia. "É bem corrido, não vou mentir. Mas é algo que está sendo gratificante. Sinto que estou me encontrando nessas áreas de educação e clínica", revelou a psicóloga, destacando o equilíbrio que tenta manter entre as demandas da prática clínica, o ensino acadêmico e o trabalho na educação pública.
Júlia ainda comentou sobre o carinho especial que tem por sua atuação na clínica, onde trabalha há mais de sete anos. "A clínica é meu xodó, desde que saí da faculdade. Permanecer nessa área tem sido gratificante, embora seja desafiador lidar com as demandas externas e manter o equilíbrio entre o que é nosso e o que é do outro", explicou, destacando a importância de cuidar das emoções sem se deixar sobrecarregar pelos problemas dos pacientes.
A Saúde Mental em Tempos de Pandemia
Um dos tópicos centrais da conversa foi o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental, tanto dos profissionais da saúde quanto da população em geral. Júlia destacou que durante a pandemia houve um aumento significativo na procura por atendimento psicológico, especialmente entre os profissionais da saúde. "A pandemia foi um grande indicador de que muitas pessoas estavam adoecidas emocionalmente. Eu atendi muitos pacientes online durante esse período, o que mostrou o quanto a saúde mental estava fragilizada", afirmou.
Ela ressaltou que o isolamento social, somado ao medo constante do vírus, fez com que muitas pessoas tivessem que confrontar questões internas que antes eram ignoradas na correria do dia a dia. "Ficamos muito tempo sozinhos ou confinados com um pequeno grupo de pessoas, o que fez com que muitos problemas emergissem e precisassem ser enfrentados de maneira mais direta", comentou.
Setembro Amarelo e a Prevenção ao Suicídio
O mês de setembro é conhecido pela campanha do Setembro Amarelo, que promove a conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Durante a entrevista, Júlia destacou a importância dessa campanha, mas também salientou que a discussão sobre saúde mental deve ocorrer durante todo o ano. "O Setembro Amarelo vem reforçar a necessidade de falar sobre suicídio, mas é importante entender que o sofrimento mental precisa ser discutido sempre. O suicídio é o estágio avançado de um sofrimento que começou muito antes", pontuou.
A psicóloga enfatizou que, além de campanhas pontuais, é essencial promover ações contínuas que incentivem o autocuidado e o apoio emocional. "Precisamos de políticas públicas que não só combatam o suicídio, mas também promovam a saúde mental de forma preventiva. Muitas vezes, as pessoas só procuram ajuda quando o problema já está crítico, e precisamos mudar essa cultura", alertou.
O Impacto da Educação na Saúde Mental
Júlia Araújo, que também é professora de psicologia, falou sobre o impacto da educação no desenvolvimento emocional dos alunos. Segundo ela, a escola não apenas oferece conteúdo acadêmico, mas também ajuda na formação emocional das crianças e adolescentes. "A educação tem chegado com mais força para mim nos últimos dois anos, e isso se reflete diretamente na saúde mental dos jovens. As escolas são um espaço importante de socialização e desenvolvimento, mas é essencial que os pais participem ativamente desse processo", afirmou.
Ela destacou a importância da parceria entre pais e escola na construção de um ambiente saudável para as crianças e adolescentes. "Uma das dicas principais que dou é: participem da vida escolar dos seus filhos. Não deixem a responsabilidade toda para a escola, pois a educação também começa em casa", aconselhou.
A Tecnologia e o Desafio das Gerações
Um ponto interessante levantado por Júlia foi o impacto das novas tecnologias no comportamento das crianças e adolescentes. Segundo ela, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desenvolvimento socioemocional. "As telas viciam o cérebro, e o uso excessivo das tecnologias pode isolar as crianças de interações sociais importantes. Precisamos equilibrar o uso da tecnologia com atividades que incentivem o convívio e o diálogo", alertou a psicóloga.
Ela também mencionou que o uso precoce das redes sociais por crianças pode trazer consequências negativas a longo prazo. "Muitas crianças de 10 anos já estão nas redes sociais, o que não é adequado para essa faixa etária. Os pais precisam estipular limites claros sobre o que as crianças podem acessar e por quanto tempo", acrescentou.
Saúde Mental: Um Diálogo Constante
Ao final da entrevista, Júlia reforçou que a busca por saúde mental deve ser um compromisso diário, não apenas uma resposta a crises. "A saúde mental é construída no dia a dia. Precisamos estar atentos aos sinais que nosso corpo e mente nos dão e buscar ajuda sempre que necessário. O cuidado emocional é um processo contínuo", concluiu.
Ela também fez um apelo para que as pessoas busquem profissionais qualificados ao lidar com questões de saúde mental. "É fundamental procurar ajuda de psicólogos e psiquiatras habilitados, que possam oferecer uma escuta qualificada e propor tratamentos adequados. O autocuidado é um investimento necessário para garantir uma vida saudável e equilibrada", finalizou.
Reflexões Finais
A entrevista com Júlia Araújo foi uma verdadeira aula sobre a importância do cuidado com a saúde mental, especialmente em tempos tão desafiadores como o pós-pandemia. O impacto das discussões abordadas se estende não só à saúde individual, mas também à construção de uma sociedade mais empática e atenta às questões emocionais de todos.
Fica o convite para que cada um reflita sobre seu próprio bem-estar e busque maneiras de promover saúde mental no cotidiano, seja por meio de pequenas pausas, atividades prazerosas, ou até mesmo a busca por ajuda profissional quando necessário.
🔗 A entrevista completa está disponível no canal do You Tube da rádio Itapuama. Veja e reveja.
Texto e imagens por: Michael Andrade @m.drade Estagiário de Jornalismo Uniasselvi.
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