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O chef César Santos e o jornalista, escritor e antropólogo Bruno Albertim falam sobre a comida que alimenta muito mais do que o corpo durante a 3ª edição da Feira Literária do Sertão (Felis), em Arcoverde. (Foto: Divulgação/Cepe). |
Não faz muito tempo, comida tradicional e popular como rabada, buchada e feijoada não servia prato de classe média, muito menos agradava o paladar do topo da pirâmide social brasileira. Agora esses pratos alcançaram título de nobreza e figuram nos menus mais sofisticados.
Um dos chefs que ajudaram a valorizar a culinária local foi o recifense César Santos. Ele estará na 3ª edição da
Feira Literária do Sertão (Felis), ao lado do jornalista, escritor e antropólogo Bruno Albertim, neste sábado, dia 26 de outubro, às 17h30, no
Diálogo Alimentação e Identidade.
Realizada em Arcoverde até o próximo domingo (27), a Felis é uma co-realização da
Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e do Coletivo Cultural de Arcoverde (Cocar), e nesta edição aborda o tema Literatura, Preservação e Memória.
É o primeiro evento a ser realizado dentro do Circuito Cultural de Pernambuco, que reúne ações da Cepe, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundarpe nas diversas linguagens artísticas. Serão mais de 40 horas e quase 60 atividades dentro de uma programação totalmente gratuita, que abrirá espaço para lançamentos de livros de autores locais e convidados, palestras, rodas de conversas, debates, apresentações musicais, oficinas, teatro, dança e gastronomia.
Como antropólogo, Bruno vem pesquisando as relações entre comida e identidade. Nesse diálogo com o chef César Santos, Bruno falará sobre como a culinária popular e tradicional de Pernambuco “vem sendo ressignificada para a construção de uma gastronomia pernambucana
também ligada à construção de identidades”.
O tema, inclusive, será capa da próxima edição da Revista Continente (Cepe Editora). Vencedor do Prêmio Esso Regional 2013 pela reportagem Identidade Comestível, Bruno lançará em breve livro resultante dessa matéria, publicada no Jornal do Commercio em 2013.
“Parto do pertencimento, da hierarquia, de como a comida alimenta mais do que apenas o corpo físico. Quero mostrar como pratos populares que antes não eram consumidos pela classe média e elite por questões de preconceito passam a ser incorporados como hábito social no sentido de geração não apenas de prazer gastronômico, mas de geração de uma identidade coletiva ampliada no contexto da globalização”, explica Bruno.
Com a globalização, segundo ele, as culturas locais passaram a ser valorizadas como específicas na medida em que há uma cultura homogênea global. “Elas (as culturas locais) valorizam mais suas particularidades culturais no sentido de criar relevâncias frente a essa homogeneização da globalização. Então nesse contexto a culinária regional ganha um novo sentido. Deixa de ser algo consumido pelo povo apenas para ser incorporada pelos hábitos das classes médias e de elite no sentido de gerar personalidade distintiva”, complementa o jornalista.
A cozinha de César Santos é a representação material da teoria de Bruno. Graças a César e ao seu restaurante olindense Oficina do Sabor - aberto há 27 anos - queijo de coalho, carne de sol, jerimum, charque, macaxeira e manteiga de garrafa ganharam outras leituras e reconhecimento internacional.
Assim como os molhos feitos com frutas tropicais. Afeito às panelas, odores e sabores desde menino, César se aperfeiçoou com a ajuda de cursos no Senac. “Vejo alunos de gastronomia que querem aprender primeiro a cozinha internacional. Mas é importante conhecer antes de tudo a comida local”, avisa o chef, que se orgulha de não ter precisado ir para fora do país para se firmar na profissão e ganhar notoriedade no cenário gastronômico brasileiro.
90 anos - Nesta sexta-feira, 25, às 18h, Bruno Albertim conversa com o público da Felis sobre o livro Tereza Costa Rego: Uma mulher em três tempos, lançado pela Cepe em 2018. No final deste ano Bruno será co-curador, ao lado de Marcus Lontra, de uma exposição em homenagem aos 90 anos da artista, no Cais do Sertão.
Confira a programção completa da Felis no post
Felis: literatura e arte invadem Arcoverde de 24 a 27 de outubro com a Feira Literária do Sertão.
Reportagem: Carol Botelho, da Assessoria de Comunicação da Cepe.
Imagens: Divulgação/Cepe.
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