Ariano Suassuna teria feito 90 anos na última sexta-feira. (Foto: Reprodução/Agência Brasil). |
Os textos estavam entre manuscritos, ilustrações e pinturas deixados por Ariano na casa onde viveu, em Recife. De acordo com o pesquisador Carlos Newton Jr. a obra mais antiga encontrada, a mais importante anterior à fase do “Auto da Compadecida”, de 1950.
Entre as obras estão o “Auto de João da Cruz”, “O Arco Desolado”, “O Desertor de Princesa”, “As Conchabranças de Quaderna” e ainda “A História de Amor de Romeu e Julieta”. O lançamento das novas obras faz parte de um projeto da editora Nova Fronteira, organizado pelo filho de Ariano, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna.
Ariano Suassuna faz reflexão sobre a morte em manuscrito inédito
Texto foi enviado ao jornalista Gerson Camarotti, que leu manuscrito durante Conversa com Bial
O ator Luiz Carlos Vasconcelos, o diretor Guel Arraes e o jornalista Gerson Camarotti durante o programa Conversa com Bial sobre Ariano Suassuna. (Foto: Carol Caminha/Gshow) |
"Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo. Eu me portei bem, mas não sei se foi por coragem ou por ser uma pessoa que, por temperamento, sempre acha que tudo vai dar certo. Quer dizer: pode ter sido coragem, mas pode também ter sido otimismo imbecil", revelou Ariano no texto. Em vida, o poeta paraibano radicado em Pernambuco costumava se referir à morte como Caetana.
Gerson esteve no talk show comandado por Pedro Bial na Globo para comentar a marca de 90 anos do nascimento de Ariano, celebrado com espetáculo, livros inéditos e filmes. Está programado para outubro o lançamento do livro inédito A ilumiara: Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores, resultado de mais de 30 anos de trabalho do dramaturgo e descrito como a "obra final" da sua vida. Nesta semana, estreou o musical Suassuna: O auto do reino do Sol, da companhia Barca dos Corações Partidos.
A peça tem texto de Braulio Tavares, encenação de Luís Carlos Vasconcellos e músicas inéditas compostas por Chico César. No enredo, uma trupe de circo viaja a Taperoá, na Paraíba, para uma reverência ao "poeta Suassuna", que nunca tem o primeiro nome citado. "É uma forma mais poética, já que ele iniciou na poesia e a partir daí desenvolveu outras obras. Houve a decisão de chamá-lo de poeta em vez de dramaturgo ou escritor", detalha o ator Eduardo Rios, que vive Escaramuça no musical.
Leia, na íntegra, o manuscrito de Ariano enviado a Gerson Camarotti:
"Meu caro GERSON CAMAROTTI:
Você me fez uma pergunta sobre a covardia de Chicó, indagando se eu me pareço com ele nesse traço. Não sei. Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo. Eu me portei bem, mas não sei se foi por coragem ou por ser uma pessoa que, por temperamento, sempre acha que tudo vai dar certo. Quer dizer: pode ter sido coragem, mas pode também ter sido otimismo imbecil.
Por isso, acho que não sou covarde, como Chicó; mas também não posso afirmar que tenha coragem. Acho que só poderei saber isto se, no momento da morte – e caso minha agonia me dê tempo e condições para avaliar o que está acontecendo – eu olhar sem pavor a aproximação da Moça Caetana.
Um abraço de
Ariano Suassuna."
Por Zalxijoane Lins:
Fontes: Portal Brasileiríssimos e Diário de Pernambuco.
(Ao copiar informações daqui, favor inserir os créditos).
0 Comentários