Pesquisa divulgada no Congresso de Hospitalidade, da Feira Hospitalar, mostra as dificuldades que as mães enfrentam nos hospitais e maternidades
Diariamente, inúmeros casais têm que frequentar corredores e ambientes inesperados de hospitais e maternidades e enfrentar uma difícil rotina para acompanhar, na medida do possível, seus filhos que logo que chegaram ao mundo precisaram de cuidados intensivos.
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, se não bastasse as características do ambiente um tanto assustador, repleto de máquinas, fios e sons que conflitam com aquele lugar com características angelicais que geralmente se prepara para acolher a criança, os pais ainda enfrentam inúmeros problemas relacionados à falta de informação e até falhas de comunicação que fazem com que a experiência seja ainda mais angustiante.
Com o intuito de identificar os problemas que ocorrem no processo de comunicação entre os profissionais de saúde e as puérperas que têm seus filhos internados em UTI Neonatal, a pesquisadora Karina Fusco, que também foi “mãe de UTI”, entrevistou mais de 70 mulheres que passaram por esta situação em hospitais e maternidades públicas e particulares do Estado de São Paulo entre 2008 e 2016.
O estudo “Falhas de Comunicação em Ambiente Hospitalar com as Mães de UTI” foi realizado como trabalho de conclusão de curso da pós-graduação em Hotelaria Hospitalar do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, e será apresentado nesta sexta-feira, 19, no Congresso de Hospitalidade, que acontece nas dependências da Feira Hospitalar, em São Paulo. Além da pesquisa quantitativa, também foram levantados dados qualitativos que demonstram que há muitos problemas que fazem com que as mães sofram ainda mais.
Para 57% das mães a notícia de que o filho recém-nascido precisaria ser encaminhado para a UTI foi passada de forma fria, sem qualquer cuidado ou sensibilidade. (Foto: Fernanda Carvalho/O Tempo). |
Se por um lado as mães não expressam suas insatisfações e por outro os hospitais e maternidades também não abrem possibilidades de diálogos com seus clientes, o resultado final tende a ser desfavorável para ambos os lados.
Outro dado relevante é que para 57% das mães a notícia de que o filho recém-nascido precisaria ser encaminhado para a UTI foi passada de forma fria, sem qualquer cuidado ou sensibilidade.
Mas é justamente quando a rotina se estabelece e as mães ainda internadas têm que se adequar às restrições de visitas às UTIs, é que sentem as maiores dificuldades na comunicação em ambiente hospitalar.
A pesquisa apontou que, durante esse período, 79% das mães receberam informações sobre a saúde dos filhos apenas nos momentos de visita e de forma automática, nada humanizada. Para 68% delas, isso não era satisfatório.
Como a média de permanência em UTI Neonatal no Brasil é de 15,2 dias, segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), e das mães sem qualquer intercorrência é de dois dias para parto normal e de 2,6 dias para cesárea, costuma ser angustiante para essas mulheres ir para casa sem levar o filho no colo.
Nesse momento, a percepção de que a comunicação é falha se intensifica. Porém, o estudo mostrou que foi nessa fase que 53% das mães perceberam um cuidado especial por parte de alguém da equipe multidisciplinar da UTI Neo, seja na forma de falar com elas ou no acolhimento. Na maioria das vezes (32%), esses cuidados especiais vieram por parte da equipe de enfermagem.
Além da pesquisa quantitativa demonstrar que os dados negativos se sobressaem majoritariamente, as perguntas qualitativas puderam reforçar que as mães de UTI são tratadas como personagens quase invisíveis, quando não incômodos nos hospitais e maternidades. “É importante ressaltar que 90% das entrevistadas viveram essa experiência em hospitais e maternidades particulares do estado de São Paulo, o que mostra que, apesar de muitas instituições oferecem inúmeros serviços diferenciados para atrai r a clientela, ainda pecam em uma necessidade básica da mulher após dar à luz, que é saber exatamente e com maior frequência como o filho está”, afirma.
Mães relataram que na maioria das vezes (32%), esses cuidados especiais vieram por parte da equipe de enfermagem. (Foto: Júnior Santos/Tribuna do Norte). |
“Cheguei para a visita na UTI e a incubadora onde ficava a minha filha estava vazia. Assustei. Comecei a chorar. Só então é que uma enfermeira me falou que ela tinha melhorado e havia sido transferida para a Unidade Semi-Intensiva algumas horas antes. Foi um alívio!”. E. V.
“Vi bebês que receberam transfusão de sangue e as mães nem ficaram sabendo. As enfermeiras esqueciam de anotar informações no prontuário. Eu não arredei pé daquele hospital até o dia da alta do meu filho. Eu dormia no sofá da recepção e dava todas as mamadas, ia uma vez por dia para casa da minha cunhada que morava perto, tomava banho e voltava para o hospital, porque tinha muito receio de ficar longe do meu filho” E. Y.
“Chamavam minha filha de “bebê de uma chance” e não pelo nome dela”. J.N.
“Na primeira visita que fiz na UTI, não fui bem recebida. Foi como se eu não fosse ninguém ali, entrei e sai da UTI e parecia que não tinham nem me notado. Aquilo me deixou pior do que eu já estava. Acho que poderiam ter sido mais sensíveis, porque como eu, muitas ali eram mães de primeira viagem” E.M.
Sobre a pesquisadora - A jornalista e pesquisadora Karina Fusco viveu a experiência de ser mãe de UTI em uma renomada instituição de saúde da capital paulista em 2008. Na ocasião, sofreu com a falta de informações sobre o estado de saúde de seu filho e teve dificuldades de entrar na UTI na primeira visita, pelo fato de não conseguir caminhar e precisar de cadeira de rodas.
A pesquisadora Karina Fusco viveu a experiência de ser mãe de UTI em uma renomada instituição de saúde da capital paulista em 2008. (Foto: Reprodução/Facebook) |
Reportagem: Juliana Matheus, da Catavento Comunicação.
Foto de capa: Reprodução/Blog Tudo Sobre Minha Mãe.
(Ao copiar informações daqui, favor inserir os créditos).
0 Comentários